E o tempo era um tanto quanto injusto, por vezes passava rápido demais, outrora, muito devagar, é algo que não se pode controlar, ele não dava essa oportunidade, não queria ser mestrado, dominado, passado para trás. Mas o garoto sempre fazia o que queria com o tempo, sempre conseguia desdobrá-lo, deixar na forma que mais lhe agradava, e era o único que tinha esse poder em suas mãos. Não que soubesse disso, era algo que apenas acontecia, ele não tentava tirar proveito diretamente disso, apenas vivia conforme queria, e o tempo sempre lhe dava tempo. Suas brincadeiras levavam horas desse tempo, seus estudos também, assim como suas amizades, sua família, seus sonhos e pesadelos, mas mesmo assim o tempo parecia ser paciente com o garoto. Não lhe cobrava nada, não lhe apressava, deixava que vivesse seu tempo. Ele gostava do tempo. O tempo nem aí.
A semana parecia ser mês, e o mês, ano. Isso quando o ano não era mês e a semana, dia. Ele sentia o tempo como lhe convinha, e o tempo nem aí.
A semana era da escola, os fins de semana, da diversão. Brincadeiras, passeios, futebol, casa da avó, dos tios, dos amigos, sua casa. O tempo estava lá. Sem incomodar.
Mas o garoto cresceu, e o tempo parece que também, não em espaço e sim em idade também. Pareceu mais adulto, mais ingrato. O garoto não entendeu o tempo, e o tempo também não queria ser entendido. Tinha mais responsabilidades agora. Havia se tornado um "tempão". O garoto se desdobrava com o tempo que apesar de "ão", lhe parecia "inho". O tempo levou sua escola, seus amigos, seus passeios, sua avó. O tempo não respeitava mais as vontades do garoto. O garoto comprou um relógio, para sempre ficar de olho no tempo, mas o tempo lhe enganava, era bem mais esperto, o tempo havia vivido mais tempo. O tempo deixou de ser amigo do garoto, e isso já faz um tempo. Só que o garoto não teve tempo para entender o que estava acontecendo. Então ele sonhou com uma máquina do tempo, queria voltar atrás, fazer tudo de novo, viver mais uma vez aqueles bons tempos. Mas como seria possível voltar no tempo, se ele é tão apressado agora, e só olha para frente? O garoto então chorou, e pediu um tempo, e o tempo não lhe ouviu. Ele implorou ao tempo para que pudesse voltar no tempo, mas o tempo estava sem tempo para esse tipo de coisas. Foi aí que o garoto entendeu que o tempo não poderia voltar no tempo, pois ele precisaria de tempo para isso, e de tempo, o tempo não dispõe.
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